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Criação brasileira, os blocos de concreto ganharam fama
com arquitetos modernistas nos anos 50
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O Edifício Eiffel, no centro de São Paulo, foi projetado por Oscar Niemeyer e ficou pronto em 1956. É um dos exemplos da arquitetura modernista e ostenta, na sua fachada, os chamados cobogós, elementos vazados de cimento ou concreto. Eles foram criados na década de 20 por três engenheiros pernambucanos, Amadeu Coimbra, Ernest Boeckmann e Antônio de Góis. Da primeira sílaba de cada sobrenome surgiu o “cobogó”. O trio se inspirou nos muxarabiês, elementos tradicionais árabes que consistem em treliças de madeira aplicadas geralmente em janelas para garantir a privacidade das mulheres, concedendo a visão do exterior, mas não o contrário. Trinta anos depois, os cobogós se popularizaram de fato na mão de modernistas como Niemeyer - Foto: Divulgação
A parede de cobogós não fazia parte do projeto original deste sobrado, erguido nos anos 60. Mas, na reforma, a arquiteta paulistana Maristela Faccioli fez questão de manter a linguagem modernista daquela época incorporando novos elementos. Blocos vazados fecham a lavanderia para garantir ventilação e luminosidade naturais. Essa é a função original dos cobogós: fechar ambientes, mas mantendo a circulação de ar, a privacidade do interior e filtrando parte da radiação solar direta. A arquiteta recomenda analisar bem as necessidades do espaço, “afinal ventilação permanente nem sempre é uma vantagem”. E na hora da compra, ela lembra que é essencial adquirir peças de boa “cura” e ter cuidado no transporte, a fim de evitar que elas cheguem danificadas ao local da obra- Foto: Evelyn Muller
Além de cumprir a função de brise, controlando a entrada de vento e de luz, os cobogós podem atuar como divisórias. No lugar de um muro, a garagem desta casa foi “camuflada” pela divisória de concreto, escolha dos profissionais do escritório brasiliense Domo Arquitetos. Os blocos vazados foram mantidos em estado bruto e conversam com outros elementos modernistas do projeto, como vigas e pilares de concreto aparente. Neste caso, vale dar uma mão de impermeabilizante, para garantir a durabilidade dos blocos e facilitar a manutenção. Neste caso, vale dar uma mão de impermeabilizante, para garantir a durabilidade dos blocos e facilitar a manutenção - Foto: Joana França
Cobogós sempre decoram, em opções que compõem verdadeiras estampas. Em diferentes padrões, peças de concreto pintadas de branco compõem belo rendilhado nesta casa em Brasília, também projetada pelo escritório brasiliense Domo Arquitetos. A fachada de cobogós oculta copa, churrasqueira e lavanderia. A instalação é feita com argamassa comum, mas requer cuidados, já que o elemento vazado é mais frágil que o tijolo. Por isso, a recomendação é assentar uma fiada de cada vez, com intervalo para secagem. “E é aconselhável colocar uma barra de metal a cada duas fileiras para estruturar o painel” . ensina Fernando Teixeira da Silva, da São Francisco Pré-Moldados, de São Paulo - Foto: Luis Gomes
Estes cobogós fazem uma releitura da palha entrelaçada, aquela “palhinha” usada em cadeiras antigas. As peças de concreto foram pintadas de preto. Um toque de nostalgia que as arquitetas Andrea Ceconello e Juliana Corradi quiseram dar à divisão entre o jardim e a área de trabalho. Para a dupla, não há regras no uso de cobogós, mas é preciso bom senso para conseguir um visual harmonioso. “Ter equilíbrio na linguagem arquitetônica é fundamental.” Outro cuidado deve ser não usar a parede de cobogós como uma parede comum, pois os blocos vazados não têm a mesma resistência estrutural. “Não deve ser usados como base de apoio e sim como alvenaria de fechamento, sem função estrutural”, ressaltam as arquitetas - Foto: Salvador Cordaro
As novidades no mercado quando o assunto é cobogó vão muito além dos “quadradinhos” de concreto, onde tudo começou. “Aos poucos foi ficando mais despojado e contemporâneo, ganhando cores da moda, novas texturas e materiais. O cobogó é uma criação brasileira e não deve sumir de nossa arquitetura”, defende a arquiteta Teresa Simões, de São Bernardo do Campo, em São Paulo. Neste projeto de varanda, ela investiu em um modelo sinuoso que garante privacidade ao mesmo tempo em que integra ambientes. “E com o projeto de iluminação conseguimos valorizar ainda mais o material”, conta Teresa. As peças de concreto pesam 12 kg cada e pedem travamento com pinos, para garantir estabilidade - Foto: Salvador Cordaro
Aqui, os cobogós de cimento remetem aos anos 50 não só pela história da arquitetura, mas também pelo design dos blocos. Escolha da arquiteta Luciana Bicheri e da designer de interiores Graziela Garavati para criar uma divisória na sala sem fechar totalmente a ventilação. Para elas, é um uso coringa do cobogó. “Pode-se usar sempre que quiser dividir ambientes de forma moderna. Ou afastado de uma parede, por exemplo, iluminando por trás, criando efeito de luz e sombra.” - Foto: Salvador Cordaro
Nem divisória, nem brise. Os blocos vazados aparecem aqui como um painel bastante original. “Os cobogós, em geral usados para controlar a ventilação, conferiram textura à parede e criaram um interessante jogo de luz e sombra”, avalia o arquiteto Ricardo Miura, que assina o projeto deste quarto com a designer de interiores Carla Yasuda. As peças de cimento foram fixadas na parede original com argamassa comum e ficam apoiadas sobre uma base de alvenaria. Se você gostou da ideia e que fazer em casa, certifique-se de que a estrutura do imóvel suporta o peso extra. Num apartamento, a solução pode ser reduzir o número de fiadas - Foto: Luis Gomes
“Sempre gostei da transparência e do charme dos elementos vazados. É uma paixão antiga, vem de quando eu ainda era uma menininha e ficava admirando uma parede inteira de cobogós na casa da minha avó”, conta a arquiteta paulistana Juliana Sorolla Mancini. Foi com essa inspiração que ela projetou essa parede de cobogós de concreto fechando o corredor. Os blocos funcionam como caixilhos, que vedam o ambiente e permitem a passagem de luz. “Além de criar uma linda trama no piso ao final da tarde”, destaca a arquiteta. Na hora de optar por ter ou não esses elementos em casa, Juliana recomenda que estética e funcionalidade se complementem. “Não adianta só usá-lo porque é um elemento bonito, ele precisa cumprir seu papel funcional no projeto”- Foto: Divulgação
A moradora desta casa, em Salvador, sofria com a influência da maresia, que diminuía a vida útil dos aparelhos domésticos. Na reforma da lavanderia, os arquitetos Gabriel Magalhães e Luiz Claudio Souza, também da capital baiana, viram nos cobogós a solução para reduzir a incidência do salitre sem perder a iluminação e ventilação necessárias à área. O modelo foi escolhido para caber no orçamento enxuto. “Sendo de concreto, tinha o melhor custo benefício encontrado. Como não tinha um acabamento muito satisfatório, resolvemos pintá-lo para melhorar a aparência do material”, conta Gabriel. Daí a escolha pelo tom forte de verde, presente em outros acabamentos e que deu personalidade ao ambiente - Foto: Xico Diniz
Cobogós podem se adequar a qualquer ambiente. O arquiteto paulista Frederico Zanelato defende essa versatilidade e optou por fechar a parede deste escritório com elementos vazados de concreto. Segundo ele, o custo é cerca de 40% menor que o de uma janela ou painel de vidro. “Os cobogós são elementos interessantes quando se deseja entrada de luz controlada, ventilação controlada e baixo custo. O modelo escolhido substitui janelas a um custo inferior e criando uma sensação agradável no ambiente”, explica o arquiteto - Foto: Célia Mari Weiss
Um detalhe que deu charme especial à parede da cozinha. Duas fileiras de cobogós deixaram a antiga chácara em Brasília com ainda mais cara de casa de campo, cheia de singelezas. Os blocos vazados ventilam e iluminam naturalmente a área, e ainda foram decorados com minivasos com flores de plástico. Toque pessoal dos moradores – a jornalista Manoela Frade e o fotógrafo Eduardo Aigner, que idealizaram, eles próprios, o design da nova casa - Foto: Eduardo Aigner
Os cobogós podem ser também combinados com outros elementos para garantir claridade e ventilação. Nesta casa, a área externa foi coberta com um pergolado de eucalipto fechado com policarbonato para proteger o quintal da chuva. Na lateral, os elementos vazados de concreto (além de uma grade) prolongam o muro e permitem a passagem de ar. Pintados de branco, eles deram ainda mais charme ao espaço. Projeto da designer de interiores Ana Maria Queiroga, de São Paulo - Foto: Marcos Lima
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