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Uma estante que abre e fecha, convertendo parte da sala em quarto de hóspedes, é a grande estrela deste apartamento. Porém as ideias engenhosas não param por aí...
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Reportagem Visual Fernanda De Castro Lima | Texto Carine Savietto / Fotos Zé Gabriel
Em vez de presentes de casamento tradicionais, os jovens engenheiros Fernanda Caltabiano e Thiago Theodoro pediram dinheiro para ajudar a remoçar o primeiro apartamento, um quase quarentão no centro de São Paulo. A ideia era conduzir a reforma por conta própria, mas, por meio de um site de cotação de mão de obra, eles chegaram aos arquitetos Rafael Castilho Devienne e Raphael Civille Rodrigues, do escritório Arquilab, que cobraram R$ 4600 por um projeto detalhado e quatro visitas à obra. Da hidráulica à iluminação, absolutamente tudo mudou. O maior desafio, no entanto, foi otimizar a planta, o que fez a dupla apostar muitas fichas na marcenaria. “Sem exagerar nos gastos, adaptamos o imóvel à vida moderna”, resume Raphael.
Um pedido em especial demandou a criatividade dos arquitetos. “Minha família, de Guaratinguetá [SP], passa um fim de semana por mês conosco. Por isso fizemos questão de que um trecho da sala pudesse ser convertido em quarto nessas ocasiões“, conta Fernanda. Projeto dos arquitetos Rafael Castilho Devienne e Raphael Civille Rodrigues.
Para substituir a grosseira divisória amadeirada que havia antes, os profissionais bolaram uma peça com dupla personalidade. Quem a vê fechada supõe tratar-se de uma estante comum, mas, note só, sua principal função é a de porta! A estante-porta pode ser movimentada sem esforço: além de contar com rodízios imperceptíveis, é mais leve que parece. Projeto dos arquitetos Rafael Castilho Devienne e Raphael Civille Rodrigues.
Cada folha só tem função de estante em uma face – para que o avesso não ficasse liso, os arquitetos Rafael Castilho Devienne e Raphael Civille Rodrigues planejaram frisos decorativos que repetem a geometria dos nichos vizinhos. Estante-porta: módulos fixos (um de 2,59 x 0,20 x 0,38 m* e dois de 1,40 x 0,20 x 0,38 m; duas folhas deslizantes que somam 2,59 x 0,20 x 2,20 m. Alceu Fortunato/ Arquilab, R$ 5 mil.
O mecanismo inteligente depende de ferragens simples. “Nada além de três dobradiças convencionais e quatro rodízios de silicone de cada lado”, revelam os sócios. A solução funciona porque a estrutura é muito leve e não sobrecarrega o sistema – as prateleiras, consequentemente, não aguentam itens pesados. Projeto dos arquitetos Rafael Castilho Devienne e Raphael Civille Rodrigues.
Eis o segredo da passagem secreta: uma das folhas desliza para frente, e a outra, para trás. Quando atingem a abertura máxima, ficam rentes às paredes, encaixadas sob módulos fixos no alto – um à esquerda, na direção do jantar, outro à direita, na direção da janela, dando a impressão de serem estruturas contínuas. Projeto dos arquitetos Rafael Castilho Devienne e Raphael Civille Rodrigues.
O módulo superior central também tem serventia: vazado, deixa a luz solar e a ventilação invadirem a sala inteira. Feita de MDF 15 mm revestido de laminado melamínico, toda a marcenaria do apê leva a assinatura dos arquitetos. Rack: tem quatro gavetões (1,92 x 0,32 x 0,45 m). Alceu Fortunato/Arquilab, R$ 1300. Projeto dos arquitetos Rafael Castilho Devienne e Raphael Civille Rodrigues.
Da hidráulica aos acabamentos, a mudança foi total no único banheiro. Aqui, não restaram nem as tubulações, já que o casal aproveitou para investir em um aquecedor a gás – em nome da segurança, o aparelho reside na área de serviço, onde a ventilação é boa. Outra providência foi inverter pia e boxe. “Com o chuveiro junto da janela, previne-se o mofo no teto”, ensina Rafael.Boxe de vidro: tem duas folhas de correr (0,50 x 1,90 m e 0,58 x 1,90 m) e duas fixas (0,50 x 1 m cada). Box Cia, R$ 850.
O piso deu lugar ao cimento queimado. Atenção: esse material não é indicado na área de banho, uma vez que mancha ao contato com a gordura do corpo e com produtos como xampu e sabonete. Dentro do boxe, reina um porcelanato de mesma tonalidade. Como complemento, as paredes receberam cerâmica que imita uma miscelânea de pastilhas azuis. O mesmo tipo de acabamento, porém em branco, reveste a bancada feita in loco, de alvenaria. Marcenaria: gabinete, armário lateral e módulo aéreo. Alceu Fortunato/Arquilab, R$ 2200.
Apaixonados por tijolo aparente, os moradores sugeriram empregá-lo em toda a extensão da sala. A fim de evitar um visual pesado demais, a contraproposta dos arquitetos foi combinálo com meia-parede de drywall (gesso acartonado), até a altura de 1,15 m. O pilar que faz divisa com a cozinha, por sua vez, vestiu-se inteiro de tijolinhos. Projeto dos arquitetos Rafael Castilho Devienne e Raphael Civille Rodrigues.
A textura das peças de demolição, assentadas com junta seca (sem rejunte), é acentuada pelas dicroicas embutidas no teto de gesso. O forro abriga, ainda, fluorescentes tubulares, fixadas na sanca invertida que contorna o cômodo. Sob o piso laminado, encontraram-se belos tacos, que voltaram a brilhar após o restauro. Forro de gesso e drywall: Isaias Avelar, R$ 3 mil. Recuperação dos tacos: ALS Raspagem, R$ 2 mil.
Até o pequeno hall do quarto e do banheiro ganhou utilidade: uma sapateira com 20 cm de profundidade. Marcenaria: sapateira (R$ 1200) e mesa de jantar (R$ 1700). Alceu Fortunato/Arquilab. Mão de obra: pintura, hidráulica, elétrica, troca de revestimentos, retirada de laminado, alvenaria, corte de tijolos e aplicação de cimento queimado. Luciano Alves/ Arquilab, R$ 12 mil.
A entrada da cozinha conquistou um móvel para acomodar copos, taças e bebidas. Há compartimentos fechados, nichos apropriados à armazenagem de garrafas de vinho na horizontal e prateleiras com luz embutida, onde as peças mais queridas são expostas em destaque. Marcenaria: Alceu Fortunato/Arquilab, R$ 3 mil. Projeto dos arquitetos Rafael Castilho Devienne e Raphael Civille Rodrigues.
Um dos lados da bancada em L é extensível: basta puxar o tampo e acoplar uma prancha extra, que fica guardada separadamente. Os azulejos estampados de flores azuis são originais. “Mantê-los em ao menos um trecho foi uma forma carinhosa de preservar a memória do apartamento”, justifica a proprietária. Projeto dos arquitetos Rafael Castilho Devienne e Raphael Civille Rodrigues.
Cozinha e área de serviço compartilham o mesmo ambiente. “A estratégia foi fazer de dois cômodos diminutos um só, porém com plenas condições de uso”, explica Raphael Civille Rodrigues. Para o piso, a escolha recaiu sobre o cimento queimado pronto (Bautech). “Um bom resultado, liso e sem trincas, depende de mão de obra qualificada”, alerta o arquiteto.
“Antes não existia lugar nem para uma lavadora, então recorríamos à casa da mãe do Thiago para cuidar das roupas. Agora temos espaço para a lava e seca, que facilita muito a vida”, diz a moça. Os ingredientes que têm a missão de espantar a frieza são os tijolos e os ladrilhos hidráulicos. Esses últimos, em várias estampas e cores, compõem uma faixa na parede e desenham um charmoso tapete no chão.
Um único tampo de granito, em formato de U, foi recortado de modo a oferecer diferentes estações de trabalho, além de pia e tanque. Nas extremidades, o acabamento é dado por muretas de concreto, que ocultam as laterais dos eletrodomésticos. Marcenaria: Alceu Fortunato/Arquilab, R$ 6500. Bancada: Ateliê Verona, R$ 3200. Ladrilhos hidráulicos: Vianarte, R$ 472.
O casal só abraçou a ideia de reformar porque desejava uma cozinha à moda americana, mas foi impossível tê-la: eles descobriram que, entre esse cômodo e a sala, existia uma parede estrutural (1), que não pode ser quebrada. O jeito foi levar ao chão apenas o trecho menor (2). A alvenaria que isolava a compacta área de serviço (3) também teve fim. Antes alocadas de maneira desordenada, as salas de jantar (4) e de estar (5) conquistaram postos bem definidos.
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