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Para comprar, um imóvel descolado por dentro e por fora

Matéria publicada por

Redação
GUSTAVO COLTRI/FOTOS TIAGO QUEIROZ

Um casal sem filhos ou um solteiro com espírito boêmio são alguns dos tipos que a cabeleireira Paola Gavazzi, de 37 anos, imaginou para ocupar o apartamento que pôs à venda na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. “Lógico que não é um perfil familiar”, aposta ela.

Paola fez dos 171,8 metros quadrados da cobertura onde mora com o marido um reflexo de sua personalidade extravagante. Há cores por todos os lados, da mobília azul turquesa na cozinha ao papel de parede zebrado na entrada do closet.

“Quando compramos, há uns três anos, o apartamentos estava todo careta. Aí colocamos tudo abaixo e fizemos umas misturas loucas”, conta. O toque ‘cool’ exigiu dois anos de reformas no imóvel e resultou em soluções pouco convencionais para a moradia.

De três dormitórios previstos no projeto original, apenas um sobreviveu às marretadas da cabeleireira – um foi derrubado para a ampliação da sala, e outro, convertido em closet.

A suíte destaca-se por ter, diante da cama do casal, um deck sustentando uma banheira para momentos de descontração. Em uma das paredes, um painel opaco também chama a atenção, mostrando a silhueta de quem toma banho no banheiro, com direito a ducha de teto e a um exagero de pastilhas no revestimento interno.

O chão de quase todo o apartamento é uniforme, de cimento queimado. E, embora não seja exatamente chamativo, leva os moradores a ambientes surpreendentes, como um pequeno salão de beleza bem ao lado do corredor que liga a sala ao quarto – um ‘make up room’, nas palavras de Paola.

Antiga dependência de empregada com menos de 3 metros de comprimento, hoje o quarto está repleto de adereços presos a uma das paredes, em frente a uma bancada fixa, com gavetas, e a um espelho com ares de camarim. “Esse é o meu espaço”, diz a cabeleireira, que vai se mudar porque quer montar, dentro de casa, um estúdio de beleza para atender seus clientes. “Aqui não dá. Já medi.”

Onde a privacidade dá lugar às relações sociais, o aconchego é a principal característica do apartamento, temperado com uma decoração para lá de descolada. Na sala, pilastras estruturais do edifício foram utilizadas para criar estantes com acabamento de cimento queimado. Uma das paredes também é forrada com madeira de demolição, logo à frente de uma escada com degraus de vidro que levam ao agitado segundo andar.

O espaço é usado para as festas do casal, com um aspecto bem mais próximo das baladas da Vila Madalena do que de uma área gourmet de um edifício residencial. No chão, ladrilhos decorativos dão um ar de boteco sofisticado à dependência, resguardada da chuva e do vento por uma cobertura de vidro.

Há também ali um balcão para a preparação de bebidas e uma bancada vermelha com pia apta a abrigar um freezer de bar. Logo atrás, o casal reservou uma área para instalar uma geladeira com porta de vidro e acomodou uma churrasqueira a gás, além de uma coifa capaz de absorver a fumaça.

O piso tem tratamento acústico e abriga uma série de conduítes que permitem a ligação de uma pick up de som em um canto a amplificadores do outro lado do salão. O lavabo completa o ar de balada, com azulejos decorativos na parede e no teto, louças pretas e uma cômoda rosa-choque que, juntos, mais parecem fazer parte do cenário de um programa da MTV.

“Claro que dá uma dor no coração de sair, mas penso na qualidade de vida de ter um estúdio em casa. E é preciso fazer as coisas para saber o que se quer”, diz Paola, diante de uma varanda cujo parapeito serve de bancada para os visitantes colocarem cinzeiros e copos de bebida enquanto observam, de cima, a maior parte da cidade – da Avenida Paulista à ponte estaiada. “A noite, com tudo iluminado, a vista daqui é demais.”